IGREJA

Cisma alemão: O Papa está sozinho

Especial para o BSM · 18 de Março de 2023 às 13:50

Depois que o Sínodo alemão aprovou normas abertamente contrárias à doutrina da Igreja, o que mais espanta é o silêncio dos bispos



Pe. Santiago Martín

Agora que o Sínodo alemão acabou, com a aprovação de normas abertamente contrárias à doutrina da Igreja, as consequências não tardaram a chegar. Na própria Alemanha, tanto o presidente como o vice-presidente da conferência dos bispos deixaram claro que, nas suas respectivas dioceses, irão implementar imediatamente a bênção de todos os tipos de casais, estejam ou não casados na Igreja.

Perguntado por um jornalista se estava ciente de que isto havia sido explicitamente proibido pelo Papa há dois anos, quando permitiu a publicação de um documento da Congregação para Doutrina da Fé, o presidente da conferência dos bispos alemães, Monsenhor Bätzing, limitou-se a responder que iria implementar tais bênçãos em sua diocese.

Fora da Alemanha, um grupo de bispos franceses irá pedir ao Vaticano que reformule a doutrina sobre homossexualidade, para que algumas relações homossexuais deixem de ser consideradas pecaminosas, sempre de acordo com o que os alemães aprovaram. Na Bélgica, os bispos de língua flamenga já abençoam casais homossexuais há um ano, tendo mesmo publicado um ritual litúrgico sobre como o fazer.

Porém o que mais me chamou a atenção, nesta semana, foi o silêncio que se produziu na Igreja universal. Refiro-me, sobretudo, ao colégio episcopal. Tem havido reações contrárias, mas bem poucas. Apenas alguns bispos levantaram a voz, recordando que o que foi aprovado na Alemanha vai contra o ensinamento da Igreja, e pedindo ao Papa para intervir.

Mas por que esse silêncio?

Consigo pensar em pelo menos três possíveis explicações. A primeira é que o conjunto do episcopado estaria de acordo com o que acontece na Alemanha. Não creio, porém, que seja a correta, pois estou convencido e seguro de que, pelo menos no que diz respeito à África e a uma grande parte dos bispos no resto do mundo, a posição seja bem outra.

A segunda explicação é que a maioria dos bispos acreditaria que o Papa concorda, basicamente, com o que os alemães decidiram e por isto não querem confrontá-lo, por medo de perder seus cargos. Esta explicação está associada à crença de que o Papa é um hipócrita, dizendo uma coisa e fazendo outra. Na verdade, o Papa criticou repetidamente o Sínodo alemão e permitiu que fossem publicados documentos proibindo o que os alemães aprovaram. Não creio que esta seja a razão do silêncio do episcopado mundial como um todo, pois, se isto fosse verdade, seria ainda mais grave do que o que ocorre no próprio Sínodo alemão.

A terceira explicação é que os bispos acreditariam ser necessário esperar que o Papa se pronunciasse voluntariamente, sem nenhuma espécie de pressão sobre ele; ou que, chegando o mês de outubro, dentro do Sínodo sobre a Sinodalidade, trate ele mesmo destas e de outras questões.

Não sei quais foram os motivos do silêncio, mas o fato é que os bispos o deixaram só. É verdade que só ele tem o ministério petrino, mas teria se sentido com muito mais força e lidaria mais facilmente com esse cisma de consequências incalculáveis, se tivesse havido uma reação majoritária e mundial contra o que os alemães aprovaram (e a favor do que o próprio Vaticano publicou, com a permissão do Pontífice: a proibição da bênção dos casais homossexuais tem dois anos; a carta dos Cardeais Parolin, Ladaria e Ouellet tem apenas dois meses; e o discurso do núncio na Alemanha, a pedido oficial, como ele próprio disse, tem pouco mais de uma semana).

Há muitos que me insultam, e a alguns como eu, dizendo que somos contra o Papa por defendermos não só a doutrina da Igreja, mas até mesmo o que o próprio Papa diz. É surreal, é o cúmulo da incongruência: defendemos o Papa e o que o Papa ensina, e somos acusados de ser contra o Papa. Na realidade, são eles que estão contra o Papa, porque, sem o dizer abertamente, afirmam ser ele um hipócrita por promover o oposto do que diz.

O Papa é o Vigário de Cristo, a cabeça visível da Igreja, e é em momentos históricos como este que não devemos deixá-lo sozinho, mostrando publicamente que estamos com ele, com aquilo que ele ensina — por exemplo, a carta que escreveu à Igreja na Alemanha pouco depois do início do Sínodo ou as suas declarações acusando o Sínodo alemão de ser elitista e ideológico —, além do que ele ordena aos seus colaboradores mais próximos e, obviamente, com aquilo que a Igreja sempre ensinou.

Não podemos deixar que o Papa fique sozinho contra esse cisma.

Tradução de José Carlos Zamboni.

— Padre Santiago Martín, da Diocese de Madri, é autor do livro “O Evangelho Secreto da Virgem Maria”. É biólogo de formação e criador do movimento chamado Franciscanos de Maria, aprovado em 2007 pelo Papa Bento XVI.

 


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