CRÔNICA DA ALTA CULTURA

Bolsonaro, o capitão da biblioteca

Fábio Gonçalves · 17 de Fevereiro de 2020 às 15:24 ·
De repente, uma pequena mudança na Biblioteca do Planalto transformou todos os esquerdistas brasileiros em bibliófilos inveterados

Bolsonaro merece virar Imperador Perpétuo do Brasil. E não é gadismo, encabrestamento político. A causa é bem objetiva, concreta. Explico.

O homem faz verdadeiros prodígios, é quase um taumaturgo. O sujeito botou ateu convicto pra assistir missa e cantar “segura nas mãos de Deus e vai” com as senhorinhas da paróquia; fez partido comunista se envergonhar do vermelho-luta e dos tradicionais foice e martelo para adotar o comportadíssimo auriverde somado a slogans de marketing burguês; fez dono de carro defender o DPVAT; liberal chamar de populismo o corte radical de impostos; ator pornô protestar pela moral e os bons costumes; praticantes contumazes de Golden Shower cobrarem compostura e liturgia do cargo; fãs de Titanic ralharem com o Di Caprio na sua versão social justice warior, etc.

Entretanto, a última foi demais: qual César, o Capitão merece mesmo a coroa de louros. Vejam se exagero.

O presidente resolveu abrir um espaço na Biblioteca do Planalto para encaixar ali uma sala pra Primeira-Dama tocar seus projetos sociais. Pra quê? Foi como mexer com os sábios guardiões da Biblioteca de Alexandria ou com os monges copistas do Monte Saint Michel. De pronto ressoou pelos quatro cantos desse país um coro altissonante de jornalistas revoltados com tamanho acinte: “Estão acabando com a nossa biblioteca, um patrimônio cultural de valor inestimável! E tudo pra agradar a bonitinha da Michele! O fascismo avança! Resistamos!”

 

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