“As pessoas achavam que estávamos isolando as praças para protegê-las”, diz general que coordenou prisão em massa um dia depois do 8 de janeiro
General Gustavo Henrique Dutra de Menezes disse que os militares sempre trabalharam para desmobilizar os acampamentos com mensagens diretas para desocupação, desmonte de barracas e interrupção do fornecimento de água e energia
Ao ser ouvido na CPI dos Atos Antidemocráticos em funcionamento na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), na última quinta-feira (18), o ex-comandante do Comando Militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, disse que durante a operação coordenada em conjunto com o governo petista para a prisão em massa dos manifestantes anti-Lula, as pessoas foram dormir achando que o Exército as protegeria.
Em seu relato, o ex-comandante diz que antes de dar a ordem para isolar o perímetro a fim de impedir a fuga dos manifestantes, o plano foi traçado com três ministros de Lula: Rui Costa (Casa Civil), Flávio Dino (Justiça) e José Múcio (Defesa).
“Nós nos despedimos, os ministros foram embora, eu permaneci do comando militar do Planalto, emiti minha ordem de operação para os meus comandantes subordinados, isolamos a praça e aí acontece um fato interessante. Havia, em algumas pessoas, um nível de fanatismo, eu não entendo, (um nível) de transe, e quando nós isolamos as praças, as pessoas achavam que nós estávamos isolando as praças para protegê-las e foram dormir [...] No dia seguinte, a polícia chegou na hora certa com todos os meios, começaram conduzir a negociação de maneira extremamente profissional” e “prendemos mais de mil pessoas sem nenhum incidente”, disse o general.
General Dutra ainda explicou que desde que os acampamentos começaram a ganhar forças em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, o Comando Militar trabalhou para desmobilizar os manifestantes com mensagens diretas para desocupação, desmonte de barracas e interrupção do fornecimento de água e energia.
A todo momento, o general se esforçou para deixar claro que desde o começo o Exército foi contra as manifestações e desmentiu boatos de que teria tentado obstruir a ação policial contra os manifestantes no dia 8 de janeiro.
Em outro momento, o general relata uma conversa telefônica que teve com o presidente Lula, de quem disse admirar a “inteligência emocional”.
“Para mim foi uma surpresa. Eu nunca imaginei falar com presidente da República naquele momento”, disse o general que passou a narrar o diálogo com Lula.
- Presidente, boa noite. Aqui é o general Dutra, comandante Militar do Planalto.
- General, são criminosos, têm de ser todos presos.
- Presidente, ninguém tem dúvidas disso, estamos todos indignados. Serão presos.
- General, são criminosos, têm de ser todos presos.
- Presidente, estamos todos no mesmo passo. Serão presos.
A ordem de prisão em massa, segundo o general, partiu de Lula para evitar uma “tragédia” caso fosse dado voz de prisão aos manifestantes que estavam nos acampamentos ainda muito agitados no dia 8 de janeiro.
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