Após vitória de Milei, Lula diz que "não precisa gostar" dos presidentes vizinhos
O presidente eleito da Argentina disse que não dialogará com esquerdistas. Segundo ele, todos são "merdas"
O atual ocupante da presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou que não é necessário "gostar" dos presidentes vizinhos, mas sim sentar à mesa em busca de acordos. Embora sem citar nominalmente Javier Milei, o presidente mencionou que não sente a necessidade de apreciar "o presidente do Chile, da Argentina, da Venezuela". Entre esses líderes, apenas o argentino se alinha a uma corrente ideológica oposta à de Lula.
As declarações de Lula ocorrem dois dias após a vitória nas eleições presidenciais argentinas de Javier Milei, economista que critica o Mercosul e teve declarações ofensivas dirigidas a Lula nos últimos meses. O presidente proferiu suas palavras durante a cerimônia de formatura de novos diplomatas no Instituto Rio Branco, escola de formação vinculada ao Ministério das Relações Exteriores.
"Nós estamos vivendo algumas confusões na América do Sul. Não é mais mesma de 2002, de 2004, 2006. Nós vamos ter problemas politicos. E, ao invés de reclamar dos problemas políticos, nós temos que ser inteligentes e tentar resolvê-los, tentar conversar. Tentar fazer com que as pessoas aprendam a conviver democraticamente na adversidade", declarou.
"Eu não tenho que gostar do presidente do Chile, da Argentina, da Venezuela. Ele não tem que ser meu amigo. Ele tem que ser presidente do país dele, eu tenho que ser presidente do meu país. Nós temos que ter política de Estado brasileira e ele do Estado dele. Nós temos que nos sentar na mesa, cada um defendendo os seus interesses. Não pode ter supremacia de um sobre o outro, a gente tem que chegar a um acordo. Essa é a arte da democracia. A gente tem que chegar a um acordo", disse Lula.
O presidente comunista, no evento do discurso, concedeu o mais alto grau da Ordem de Rio Branco ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. A condecoração foi realizada um dia após a morte de Cleriston Pereira da Cunha, cujo pedido de soltura por motivos de saúde fora ignorado pelo referido ministro. A Ordem de Rio Branco é destinada a "serviços meritórios e virtudes cívicas."
Javier Milei
Desde o começo dos anos 2000, o cenário político argentino foi dividido por duas fortes correntes ideológicas. Por um lado, atuam os simpatizantes do modelo estadista do ex-presidente Néstor Kirchner. De outro, os exaustos eleitores cooptados pela falsa oposição de Mauricio Macri. Entretanto, no meio deste suposto panorama binário, surgiu o que de fato podemos considerar uma “terceira via”: o polêmico liberalismo de Javier Milei.
Similarmente ao cenário político brasileiro, kirchnerismo e macrismo promovem a famigerada “estratégia das tesouras” – onde os dois grupos compartilham, mais ou menos, dos mesmos ideais, porém afirmam vigorosamente serem dissidentes. O objetivo desta estratégia é reter o controle do sistema político e cultural somente nas “mãos” das duas coligações.
Em 2021, Milei foi eleito deputado Nacional de Buenos Aires. Com um extenso currículo profissional, o parlamentar já era conhecido por seu trabalho no mundo acadêmico, empresarial e jornalístico.
Formou-se em Economia na Universidade de Belgrano e obteve dois mestrados no Instituto de Desarrollo Económico y Social (IDES) e na Universidade Torcuato di Tella – sendo catedrático de disciplinas como Macroeconomia, Economia do Crescimento, Microeconomia, Teoria Monetária, Teoria Financeira e Matemática para Economistas.
Foi economista-chefe em Máxima AFJP e no Estudio Broda, além de consultor governamental no Centro Internacional para a Solução de Diferenças Relativas a Investimentos. Também trabalhou como economista sênior no banco HSBC. Enfim, Milei se destacou no cenário midiático a partir de 2012. Iniciou sua participação como colunista em jornais importantes, como La Nación e El Cronista, além de contribuir com artigos no Infobae.
Após ser classificado como uma das 100 pessoas mais influentes da Argentina – título também concedido em razão de suas análises econômicas ao governo de Mauricio Macri – Milei tornou-se uma personalidade internacionalmente reconhecida pelo seu estilo “atípico” e polêmico de debate e exposição de seus ideais.
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