EXÍLIO

Após três anos, Allan dos Santos reencontra família nos Estados Unidos

Paulo Briguet · 28 de Agosto de 2023 às 16:46 ·

Perseguido pelo STF e longe do Brasil desde 2020, jornalista enfim revê a esposa Caroline e os filhos Maria Teresa, Tomás Magno e Pedro

Neste domingo, 27 de agosto, Dia de Santa Mônica, o jornalista Allan dos Santos reencontrou sua família depois de três anos de exílio nos Estados Unidos. Allan deixou o Brasil em julho de 2020, após ter a sua casa invadida duas vezes pela Polícia Federal. Seu crime, como se sabe, é praticar a liberdade de expressão na República Socialista do Brasil – ou, na linguagem da juristocracia nacional, “fazer parte de uma milícia digital que tinha como objetivo atacar a democracia e as instituições”.

Seu maior perseguidor é o ministro Alexandre de Moraes, que decretou a prisão de Allan em outubro de 2021 – depois de ter ordenado o fechamento do canal Terça Livre – com mais de 2 milhões de seguidores –, o bloqueio das contas bancárias do jornalista e a suspensão de pagamentos dos seus canais em plataformas como YouTube, Twitch.TV, Twitter, Instagram e Facebook.

Com a posse do atual ocupante da Presidência da República, o titular do Ministério da Justiça, Flávio Dino, juntou-se a Moraes na tentativa de extraditar Allan e recorreu à Interpol. No entanto, as tentativas de Moraes e Dino resultaram infrutíferas. Isso porque existe nos EUA uma coisa chamada Primeira Emenda, que garante a liberdade de expressão e funciona como um escudo para os perseguidos por crime de fala, pensamento e opinião.

Ontem Allan pôde finalmente rever a esposa Caroline, a filha Maria Teresa e os filhos Tomás Magno e Pedro. Quando viu Pedro pela última vez, ele era recém-nascido. Em abril de 2020, durante a invasão da casa de Allan e dos estúdios do Terça Livre, um agente da Polícia Federal apontou o fuzil para a barriga de Caroline, grávida de nove meses. Allan saiu do país após acusar duas embaixadas (da China e da Coreia do Norte) de instalarem escutas contra o governo brasileiro.

Em entrevista ao BSM, em setembro do ano passado, Allan disse que não tem esperanças de voltar ao Brasil. À época, ele declarou:  

“Quero ir para um lugar seguro, longe dos comunistas e globalistas. No Brasil, a coisa mais fácil é transformar um assassinato encomendado em um ‘acidente’ ou um ‘assalto’. Quando o PSDB parou de falar em fraude nas eleições de 2014? Em abril de 2015, quando o filho de Alckmin morreu. O avião de Teori Zavascki caiu depois que ele homologou as delações premiadas na Lava Jato. Toffoli sumiu como ministro depois de ter aparecido com o rosto marcado após um ‘acidente doméstico’. Os exemplos são muitos”.

Impossibilitado de rever sua família, Allan dos Santos conseguiu se manter nos Estados Unidos graças à ajuda de amigos e assinantes de seu canal. Só recentemente obteve a licença para trabalhar nos EUA. E o drama de Allan se tornou ainda maior com o estado de saúde de sua filha, Maria Teresa, a Tetê. Ela sobreviveu por milagre a uma meningite encefálica depois de tomar uma vacina contra herpes. Teve uma infecção no cérebro, que foi debelada, mas causou muitos problemas. Tetê ainda tem dificuldades para se alimentar sozinha, falar e andar. E só agora Allan pôde finalmente abraçá-la; só agora ele pode brincar com Tetê e tocar guitarra com o Tomás e o Pedro.

O caso Allan dos Santos não é apenas mais um exemplo de ação do Estado contra a liberdade individual. Como sempre acontece nos regimes totalitários, trata-se da história do ataque destruidor contra uma família.

Alguns podem achar que a data em que  Allan reencontrou sua família foi um mero acaso. Não este cronista. Dia 27 de agosto foi o Dia de Santa Mônica, a mulher que durante 32 anos rezou e suplicou a Deus pela salvação de seu filho, Aurélio Agostinho, que se tornaria um dos maiores teólogos e santos da Igreja. Em Confissões, sua obra mais conhecida, Agostinho medita sobre a natureza do mal:

“Procurei o que era a maldade e não encontrei uma substância, mas sim uma perversão da vontade desviada da substância suprema – de Vós, o Deus – e tendendo para as coisas baixas: vontade que derrama as suas entranhas e se levanta com intumescência”. (Confissões, Livro VII, 16).

Hoje, 28 de agosto, é Dia de Santo Agostinho. Como dizia Leon Bloy, “o acaso é o nome moderno do Espírito Santo”.

 



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