ALVIM PRECISA SAIR
O presidente Jair Bolsonaro precisa demitir imediatamente o secretário nacional da Cultura, Roberto Alvim.
O vídeo gravado por Alvim nesta quinta-feira (12) é de uma infelicidade atroz. Ao anunciar o Prêmio Nacional das Artes — em si uma iniciativa louvável —, o secretário da Cultura chegou a dizer textualmente:
“A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada.”
Para nosso espanto, esse trecho de sua fala parafraseia um discurso do ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, em 1936:
“A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada.”
Em nota veiculada pelas redes sociais hoje (17), Alvim afirmou que se tratou de uma simples “coincidência retórica”, que a grande mídia e os inimigos de Bolsonaro estariam usando para atingir o governo.
No entanto, há outros elementos na fala de Alvim que não podem ser atribuídos a uma “coincidência retórica”. O uso da ópera “Lohengrin” como música de fundo; o tom de voz grandiloquente; os gestos teatrais — tudo isso está lá, e não nos parece ser fruto do acaso.
Mas, ainda que sejamos benevolentes — nem tudo que é improvável é impossível —, resta o conteúdo do discurso de Alvim. Pelo que se depreende de suas palavras, o Estado seria a grande força criadora de uma cultura nacional. Essa concepção dirigista, infelizmente, vai na contramão de tudo que o governo Bolsonaro tem realizado até agora. O professor Olavo de Carvalho foi preciso ao comentar que, além da paráfrase de Goebbels, causa profundo estranhamento, na fala de Alvim, “o nacionalismo estatal ao estilo getulista (...) completamente estranho, se não francamente hostil, ao espírito desestatizante do governo Bolsonaro”.
Considerando todos esses aspectos — a paráfrase de Goebbels, a música de Wagner, o tom grandiloquente, o entusiasmo estatista —, o vídeo foi um verdadeiro desastre. Não sabemos, até o momento, se foi Alvim o verdadeiro autor do discurso; não sabemos de quem ele pode ter recebido maus conselhos antes de gravar sua fala; não sabemos qual era o estado emocional do secretário no momento da gravação. Tudo isso pode, e deve, ser levado em conta.
No entanto, estamos falando dos destinos do país. Se o presidente Bolsonaro mantiver Roberto Alvim no cargo, estará emitindo uma mensagem preocupante aos seus compatriotas e à comunidade internacional — uma mensagem de tolerância para com aquilo que é intolerável. Nazismo e comunismo não são meras ideologias; são culturas da morte pelas quais não se deve ter nenhuma condescendência. O mero fato de que um ministro do governo, ainda que inadvertidamente, tenha sinalizado uma aproximação com o pensamento totalitário é razão suficiente para sua demissão.
Roberto Alvim é um dos mais qualificados profissionais brasileiros em sua área de atuação. Um homem de grande talento e inteligência, que certamente ainda tem muito a contribuir para o país. Errou, como qualquer um pode errar. Mas a sua permanência no cargo seria um erro ainda maior.