A vitória de Taiwan contra o vírus chinês
País insular, separado da China continental por apenas 180 quilômetros, oferece ao mundo um modelo bem-sucedido para o controle da epidemia
O podcast The Hugh Hewitt Show, comandado pelo advogado e escritor americano Hugh Hewitt, entrevistou Joseph Wu, ministro das Relações Exteriores de Taiwan, no dia 16 de março. O tema da conversa foi o sucesso do governo taiwanês no controle da epidemia do novo coronavírus e a possibilidade de os Estados Unidos reproduzir a resposta que Taiwan deu à epidemia.
Taiwan, uma ilha separada da China continental por apenas 180 quilômetros, registra até o fechamento desta matéria 59 casos de infecção pelo COVID-19, com 20 pessoas já curadas e apenas uma morte. Durante a entrevista, o ministro Wu acabou por dar informações sobre o papel da China na disseminação da doença e falou sobre uma declaração do governo chinês que acusa as Forças Armadas dos Estados Unidos de haver criado e espalhado o vírus.
Joseph Wu, que é doutor em Ciências Políticas e ocupa importantes cargos no governo de seu país desde 2004, afirmou que o sucesso de Taiwan se deve primeiramente à experiência do país em lidar com epidemias, já que em 2002 e 2003 eles foram fortemente atacados pela SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), também provocada por uma variante do coronavírus. Em seguida o ministro destacou que o governo de seu país, ao ouvir os primeiros rumores de uma nova gripe em Wuhan, China, enviou para lá imediatamente agentes do CDC (Centers for Disease Control, Centros para Controle de Doenças) para investigar a situação.
Os agentes reportaram ao governo taiwanês que “havia algo de errado naquele lugar”, nas palavras do ministro, e que estranhamente o governo chinês não tomava qualquer medida, nem sequer se pronunciava sobre os acontecimentos. Taiwan prontamente passou a controlar a fronteira com a China com mais restrições e passou a aplicar medidas de quarentena para certas pessoas que poderiam ser fonte de contato com infectados chineses.
Cinco dias após a confirmação do primeiro caso, em 26 de janeiro, Taiwan proibiu vôos procedentes de Wuhan, e pouco tempo depois tomou a mesma medida em relação aos vôos oriundos de outras cidades chinesas, permitindo apenas o regresso de taiwaneses. Cerca de 850 mil taiwaneses vivem na China, e mais de 400 vão e voltam regularmente a trabalho, logo, estas primeiras medidas foram cruciais, segundo o governo da Ilha.
A reportagem do BSM apurou que Taiwan não proibiu aglomerações, não fechou lugares públicos e utilizou um eficiente sistema de tecnologia e cruzamento de dados para deixar em quarentena apenas quem fosse realmente necessário: somente pessoas que estiveram em áreas da Ásia ou Europa com índices altos de contágio e pessoas que tiveram contato com aquelas e, somado a este fator, apresentassem febre ou sintomas característicos. No total, foi um pacote com 124 medidas aplicadas ao longo de cinco semanas para proteger a saúde das pessoas impactando o mínimo possível a rotina e a economia do país.
O ministro Wu afirmou também que a maneira como a China estava lidando com o problema, como internações compulsórias, quarentenas forçadas e encerramento obrigatório de empresas e locais públicos, são uma “imensa violação aos Direitos Humanos”. Ele afirma que Taiwan conseguiu, de maneira equilibrada, e sem disseminar pânico, implantar medidas muito mais respeitosas à liberdade individual e com menos impacto sobre a sociedade.
Sobre os Estados Unidos terem a possibilidade de replicar as ações de Taiwan e obter o mesmo sucesso, Joseph Wu diz que os agentes do CDC de Taiwan são treinados por agentes do CDC americano; logo, os Estados Unidos já possuem, na teoria, as mesmas técnicas. Ele reforçou ainda que Taiwan está pronto para ajudar os Estados Unidos no que for preciso, mas talvez a situação americana esteja num ponto mais crítico que a de Taiwan, então o presidente Donald Trump precisaria pôr em prática tais ações o mais cedo possível.
Ainda sobre a China e sua responsabilidade sobre a pandemia, o ministro declarou que, de acordo com a sabedoria tradicional, quando surge uma crise doméstica que ameaça a manutenção do poder, governos autoritários tendem a criar uma crise fora de suas fronteiras ou iniciar uma guerra entre outros países. A idéia seria enfraquecer nações adversárias e apresentar-se como solucionador do problema causado por si mesmo — uma forma artificial de obter uma grande vitória, uma demonstração de poder para manter-se no controle dentro de seu país e, de quebra, enfraquecer os países adversários. Nesse contexto, faz sentido lembrarmo-nos que, meses antes do surto do vírus em Wuhan, o governo chinês passava por uma grave crise interna, enfrentando, inclusive, uma onda de protestos populares.
Ao tocar neste assunto, o Ministro é questionado sobre quais seriam as intenções da declaração do jornal Global Times, comandado por uma estatal chinesa, de que as Forças Armadas americanas teriam criado e espalhado o Coronavírus. O ministro então é direto: a China quer inverter a situação, posar de salvadora do mundo e encontrar um bode expiatório. Está claro para o governo taiwanês que o responsável pelo vírus é a China, de tal modo que a doença causada pelo novo coronavírus é oficialmente designada como “Pneumonia de Wuhan” em Taiwan, e Wu sustenta que o governo americano deve tratá-la por este nome também. A imagem internacional da China teria ficado extremamente prejudicada com a associação à pandemia, então, de acordo com o Wu, a China quer agora “transformar o preto em branco” — criar uma narrativa onde ela é vítima de uma conspiração americana, e mesmo assim, superou a crise e ainda ajudou o resto do mundo —, porém não há qualquer evidência sólida que sustente a narrativa dos chineses, classificada por Joseph Wu como “teoria da conspiração”.
Taiwan monitora a China constantemente, já que ambos os países possuem relações diplomáticas tensas, e baseado em seu conhecimento sobre o modus operandi chinês, o ministro Wu afirma que não se deve confiar em qualquer informação vinda daquele país no que diz respeito ao Coronavírus. Ele sustentou ainda que seu país já está a trabalhar para desenvolver não apenas vacina, mas também tratamento para os infectados e que provavelmente o trabalho ocorrerá em parceria com os Estados Unidos.
Por fim, vale salientar que todas as ações bem-sucedidas de Taiwan não são orientadas nem financiadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde); são frutos de seus esforço e tecnologia, já que o pequeno país não faz parte nem desta nem de qualquer entidade do gênero, pois a ONU, submissa à pressão do Partido Comunista Chinês, não reconhece a soberania de Taiwan, que é reivindicada pela China desde o período da ditadura maoísta.
— Brás Oscar é colunista e correspondente do BSM em Portugal, youtuber no Canal do Brás e coapresentador do programa Novos Invasores no Canal do Paulo Henrique Araujo.
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