ALTA CULTURA

A mente inquieta e o furacão da política

Brás Oscar · 30 de Agosto de 2020 às 12:32 ·

Nada pode ser mais esquerdista do que a crença na imanência da História, a crença na política e na economia como barca da salvação
 

Fecisti nos ad te et inquietum est cor nostrum donec requiescat in te.

(Santo Agostinho. Confissões, Livro 1, Cap. 1)

 

A Europa está no olho do furacão: protestos na Alemanha, Putin tentando recuperar os territórios da Cortina de Ferro da antiga União Soviética, Turquia avançando com sua ideologia otomanista e partindo pra cima da Grécia e do Chipre. O Brasil está no olho do furacão: Witzel afastado do cargo de governador, PL para legalizar maconha, PL para matar bebê, STF, famílias Marinho e Frias em queda de braço com o Presidente da República, etc., etc.

O problema é que sempre foi assim. Alguém se recorda de os jornais terem dito nos últimos 200 anos que “está tudo bem, não aconteceu nada que mereça sua atenção, vai tomar um chá e descansar um pouco”? É o fim do mundo todo fim de tarde. A política é o olho do furacão; um torvelinho eterno que cria uma atmosfera úmida e lúgubre nos impedindo de perceber que aquilo é apenas um aspecto, e não um filtro de leitura, da realidade.

Outra analogia para a política rasa, pequena e efêmera é o esgoto; ele é necessário, mas ninguém se refestela ao ter de mergulhar nele, e quando o faz, dificilmente não sai maculado de bosta. Cícero, que era político, é citado como o criador da expressão Arcem facere e cloaca, algo como “fazer uma fortaleza para conter um esgoto”, equivalente a “fazer uma tempestade num copo d’agua”, e quando a gente se afasta para ver o quadro geral, nossa agonia tem um tanto disso mesmo...

A nossa mente, hiperestimulada por telas, luzes, sons, anúncios, notícias, torna-se inquieta e não resiste à sedução da exaltação da imaginação que o quebra-pau diário da política nos oferece: xingar petista no Twitter, ver seis lives no YouTube com o mesmo tema e cobrar, com ares de cidadão redpillado, o pobre sétimo jornalista que ousou não engrossar a hashtag do dia da Direita Dançante (roubei esta expressão do Paulo Henrique Araújo). Quem lá quer saber de método de alfabetização e literatura inglesa quando Hélio Negão te chama pro madrugadão do It’s time?+

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