AUTORITARISMO ESCLARECIDO

A ditadura dos especialistas e a farsa das opiniões “científicas”

Lucas Mafaldo · 5 de Abril de 2020 às 16:33 ·

O bordão tecnocrático pressupõe que existe um único corpo de especialistas com respostas unânimes para todos os nossos problemas. Nada poderia ser mais distante da verdade

Durante as últimas semanas, um lugar-comum foi repetido à exaustão no debate público brasileiro: diante da ameaça do coronavírus, devemos seguir o que dizem os especialistas. A recomendação parece sensata à primeira vista, mas não resiste a dois minutos de investigação.

É preciso distinguir o deslumbramento pela autoridade científica da própria ciência. A ciência é uma ferramenta importantíssima para o progresso da humanidade, mas ela tem limitações naturais. Quando passamos a esperar da ciência algo que ela não pode oferecer, nós caímos no campo do cientificismo.

O caminho mais curto para rejeitar esse tipo de afirmação é fazer uma simples pergunta: quais especialistas?

O bordão tecnocrático pressupõe que existe um único corpo de especialistas com respostas unânimes para todos os nossos problemas. Nada poderia ser mais distante da verdade. A ciência não é um conjunto de dogmas definitivos, mas uma série de processos que, ao longo do tempo, permitem uma depuração das várias teses em disputa. Embora algumas dessas teses possa ser rejeitadas ao longo do tempo, sempre restam várias teses divergentes em competição. Em todo campo científico, é justamente essa competição que move a busca por novas e melhores completas explicações, frequentemente levando ao abandono de teses antigas. Como Silvio Grimaldo bem definiu, em uma excelente thread no Twitter: "a ciência é um cemitério de hipóteses, não um canteiro de conclusões".

Os cientificistas tentam evitar superar esse dilema afirmando que estão seguindo a recomendação da maioria dos cientistas. Ora, mas a popularidade de uma tese não é um critério científico. É perfeitamente normal ― e mesmo comum ― que posições minoritárias na ciência, defendidas apenas por um conjunto de esquisitões, terminem por substituir o consenso anterior.

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