DIÁRIO DE UM CRONISTA

Rio Grande do Brasil: Tragédia e esperança

Paulo Briguet · 3 de Maio de 2024 às 15:43 ·

Ai da alma daquele que perguntar qual é o partido ou o candidato ou a classe social ou a etnia do irmão que clama por socorro!

Estamos bem, Paulo, mas já consigo avistar a água subindo pela minha sacada. Ontem, no fim do dia, o Rio Guaíba chegou ao nível da cidade. Hoje pela manhã invadiu a rodoviária e agora está adentrando pelos bairros. Consigo ver a água ao longe, é assustador. Não é um desastre natural, é sobrenatural.

Essa foi a resposta de minha querida amiga Verônica, moradora de Porto Alegre, quando lhe perguntei como estavam as coisas por lá.

Felipe, outro amigo porto-alegrense, enviou-me um áudio com as suas impressões da tragédia:

— As cidades ribeirinhas estão sendo devastadas. Eu nunca tinha visto nada parecido, nunca. É dramático ver a situação desse povo que vive nas pequenas propriedades rurais. Muitos lugares foram varridos do mapa.

Diego, de Passo Fundo, diz que a sua região foi poupada dos piores efeitos das chuvas, mas sente que a tragédia se incorporou aos elementos naturais, deixando no ar um sentimento de impotência e perplexidade:

— Algo nunca visto. Inimaginável. A impressão que se tem é de que o Sol jamais reaparecerá. A desproporcionalidade da tragédia em relação aos meios de ação do Estado é brutal.

Meu amigo Thomas, morador de Garibaldi, compartilhou comigo suas impressões sobre a calamidade:

— A chuva é intensa nesses últimos dias, intensa. Eu moro em Garibaldi, na região da Serra. Com a neblina e as estradas bloqueadas, ficamos realmente ilhados. Mas existe uma mobilização na cidade que muito me emociona. Empreendimentos voluntariamente se transformaram em postos de coletas, e isso é muito bonito. Existe um engajamento social que realmente comove. Dentro desse conjunto de mobilizações, uma mobilização de voluntários que se engajam junto com Bombeiros, enfim, se direcionam às cidades e começam o trabalho de limpeza das casas e tentam organizar um tipo de trabalho mais eficaz de distribuição de doações. É um trabalho do cidadão comum, o cidadão comum que se engaja. Houve uma corrente de apoio no ano passado. Essa corrente se mantém, mas agora a tragédia é muito pior.

Eu e meus amigos Bernardo Küster, Brás Oscar e Silvio Grimaldo estávamos com viagem marcada nesta sexta-feira para Treze Tílias, em Santa Catarina, onde participaríamos de um evento organizado pelo Instituto Cruzeiro do Sul. Com a previsão de chuvas fortes na região, decidimos adiar nossa viagem, até porque várias pessoas teriam que se deslocar para o local do evento, e isso colocaria em risco a segurança de todos.

Diante de uma tragédia como a do Rio Grande do Sul, todas as nossas diferenças pessoais e políticas devem desaparecer. Pelo amor de Deus, esqueçam as tretas! É hora de estender as mãos aos nossos irmãos, sem acepção de pessoas. A tragédia reacende em nós a luz da compaixão, e essa luz é como a do Sol, nunca poderá ser seletiva. Ai da alma daquele que perguntar qual é o partido ou o candidato ou a classe social ou a etnia do irmão que clama por socorro!

Hoje, quando penso na tragédia do Rio Grande do Sul, vêm à minha memória os numerosos amigos que tenho nesse Estado, bem como a riqueza e a imponência de sua cultura, de sua economia, de sua história marcada por lutas, dramas e heroísmos.

Rio Grande de Caxias, de Canoas, de Lajeado, de Pelotas, de Novo Hamburgo, de Santa Maria. Rio Grande de Cruz Alta, de Feliz, de São José dos Ausentes. Rio Grande de Cristal. Rio Grande de Joia. Rio Grande de Estrela Velha. Rio Grande de Esperança do Sul. Rio Grande de Erico Verissimo, de Augusto Meyer, de Moacyr Scliar, de Simões Lopes Neto, de Mário Quintana, de Carlos Nejar, de Lupicínio Rodrigues, de Lya Luft, de Percival Puggina. Rio Grande dos Pampas, das Serras, da Fronteira e do Mar. Rio Grande das Missões. Rio Grande de Ana Terra e de Capitão Rodrigo. Rio Grande Índio Velho. Rio Grande da Rosa dos Ventos, do Norte, do Leste e do Oeste. Rio Grande do Céu, Rio Grande do Sol. Rio Grande do Oiapoque ao Chuí. Rio Grande do Brasil.

 

— O professor Thomas Giulliano está angariando doações para as vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul. A chave do pix é: [email protected]

 


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