AMÉRICA LATINA

Gabriel Boric confronta embaixador argentino em meio a acusações sobre presença do Hezbollah no Chile e Brasil

Brás Oscar · 18 de Abril de 2024 às 14:57 ·

Subsecretário do governo de Gabriel Boric sugeriu que objetivo do governo da Argentina é “prejudicar a imagem do país” ao apontar presença do grupo terrorista em território chileno


O presidente do Chile, Gabriel Boric, criou um embaraço diplomático nesta quarta-feira (17), convocando o embaixador da Argentina em Santiago, Jorge Faurie, em resposta às declarações da ministra da Segurança do governo argentino de Javier Milei, Patricia Bullrich.

Em pronunciamento recente à imprensa argentina, a ministra Bullrich expressou preocupações legítimas sobre as relações entre Bolívia e Irã, conhecido patrocinador do Hezbollah e do terrorismo islâmico, e ressaltou a presença de terroristas deste grupo tanto no Chile quanto no Brasil.

Bullrich destacou que células do Hezbollah foram identificadas no ano anterior e que dois de seus membros acabaram fugindo para São Paulo, e ressaltou a conexão direta desses grupos com o Irã.

As declarações da ministra do governo Milei repercutem a conclusão do Tribunal Federal de Cassação Criminal da Argentina, que atribuiu ao Irã a responsabilidade por dois grandes atentados no país nos anos 1990, realizados pelo Hezbollah, sob a influência e apoio de Teerã.

Estes atos terroristas, que ceifaram a vida de dezenas de inocentes, todos com foco anti-semita, incluem o devastador ataque de 1994 à sede da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em Buenos Aires, que resultou na morte de 85 pessoas, e o atentado à Embaixada de Israel em 1992, quando 29 perderam suas vidas.

Enquanto isso, a resposta do governo chileno, liderado por Boric, foi apenas a negação e a relutância em cooperar com as preocupações legítimas levantadas pela Argentina. A ministra do Interior chilena, Carolina Tohá, contestou as declarações de Bullrich, afirmando apenas que, no momento, não há ameaças do Hezbollah no Chile.

As preocupações de Bullrich não surgem do nada, conforme o governo chileno dá a entender. Ao contrário, são baseadas em evidências sólidas e investigações profundas que ligam o Hezbollah às atividades terroristas na América do Sul, conforme corroborado pelas investigações policiais desde os atentados terroristas em Buenos Aires até as conclusões do sistema judiciário argentino.

O subsecretário do Interior chileno, Manuel Monsalve, em pronunciamento à imprensa chilena, deu a entender que as preocupações com o terrorismo e com a presença do Hezbollah na América do Sul – que possuem evidências mais que substanciais – não passam de uma narrativa do governo Milei e de “alguns senadores dos Estados Unidos”. De acordo com Monsalve, as falas de Bullrich são “apenas para prejudicar a imagem do país”, referindo-se a prejudicar a imagem do governo de esquerda de Boric.

O Itamaraty ainda não se pronunciou sobre as declarações de Bullrich.

 


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